Prevenir problemas ou Praticar CUIDADO COM A VIDA?

“Você que é psicóloga me explica: o que leva uma pessoa a cometer um erro e sofrer um acidente grave?”

Esta é uma pergunta feita a mim com muita frequência nos ambientes industrias e eventos corporativos. Sim, temos muitas hipóteses, estudos e teorias para apoiar este entendimento.

Contudo, preciso confessar que esta não é uma pergunta que me move.

Ela não me motiva a seguir na conversa.

Não me convida por que é o tipo da inquietação que cessa quando alguma resposta mais ou menos plausível e dada.

“Pronto! Entendemos o que aconteceu! Vamos tocar em frente as coisas por aqui”

Já aterrissei no campo da Psicologia do Trabalho aplicada à Saúde e Segurança advinda de uma rubusta formação no Pensamento Sistêmico.

Esta perspectiva me “vacinou” para sempre contra olhar as coisas de forma parcial, linear, reducionista.

Um olhar sistêmico está comprometido em exercitar, de forma incansável, enxergar o TODO e a PARTE, ao mesmo tempo. A árvore e a floresta. A doença e o organismo.

Noto (e sempre comprovo esta tese) que quando dirigimos o olhar somente para a parte do sistema produtivo e da pessoa que errou, limitamos a compreensão da Cultura de Segurança naquilo que está “doente”, “disfuncional”, “desajustado”.

Caímos naquelas conclusões vagas e culpabilizantes que afirmam que

“a pessoa não percebeu o risco e errou, por isto se acidentou”

e pronto.

Mas e o resto?

As análises mais ricas e completas que já testemunhei se arriscavam a fazer aquele “zoom out”, ampliar o foco, enxergar mais amplo. E assim conseguiram compreender os fatores humanos como eles de fato são: complexos.

Olhavam para os erros, para os acertos e para a conexão entre eles.

Olhavam para o comportamento do indivíduo, para o comportamento da sua liderança, do seu grupo, da sua empresa e para a conexão viva e dinâmica entre todos estes “comportamentos”.

A primeira vez que escrevi sobre isto foi em 2001. Desde lá prefiro afirmar meu propósito e minha contribuição como “Cuidado com a Vida” e não como “Prevenção de Acidentes”.

Até hoje percebo que esta é a primeira barreira a ser superada nas organizações quando estou numa conversa sobre “como podemos reduzir acidentes aqui”.

De fato, o que me move no campo da Saúde e Segurança é a possibilidade de perguntar:

  • Como podemos criar ambientes de trabalho tão preocupados com a Integridade das pessoas que os operam quanto com o volume a produzir no fim do dia?

  • Como apoiar as pessoas a organizarem suas atividades rotineiras elevando o nível de Cuidado que elas podem ter, consigo e com os colegas?

  • Como sustentar um sistema sócio-técnico complexo (como uma fábrica, uma aeronave ou uma plataforma de petróleo) operando todos os dias nos melhores padrões de funcionamento, eficiência e proteção da integridade das pessoas?

Como vê, estou menos interessada em “por quê as pessoas erram” e muito mais animada em dialogar a respeito de “como nós podemos acertar mais”.

Te interessa?
Chega mais!
Um abraço!

Juliana

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