Do Jo Aprendizagem, Maestria e a prática da SST

Estava refletindo estes dias que para os praticantes das Artes Marciais o Do Jo é um lugar altamente simbólico. 

Do Jo é espaço físico onde o treinamento acontece. É um lugar para se frequentar por anos e anos. É onde seu corpo e mente são acolhidos por uma comunidade de praticantes num espírito quase de família, entretanto, eles estão ali para te desafiar incessantemente em prol da sua evolução.

Ali se reverencia os que vieram antes, a linhagem, as origens da prática. Há pelo menos uma foto de uma figura icônica daquela tradição a quem se admira e agradece. As raízes guardam um lugar de Sagrado na vida do praticante.

No Do Jo há uma lealdade profunda aos Mestres. Quem veio antes e trilhou em primeira pessoa o caminho e o conhece com a palma da mão e com a sola dos pés.

Com o amadurecimento do praticante, a idolatria ao Mestre (própria dos principiantes) vai dando lugar a abertura para aprender com ele(a), para observa-lo(a) em ação, ganhar repertório imitando sua forma de lidar com a dor, com o conflito, com a persistência e com a vitória (postura do Iniciado).

“O verdadeiro Mestre é aquele que te ensina com as costas. Sua vida é o próprio ensinamento” acena a sabedoria oriental.

Na voz de um(a) Iniciado(a) na arte não se vê soberba, vontade de sempre ter razão, violências sutis para garantir que o aprendiz seja obediente ou subserviente a você e a sua forma de ver e fazer as coisas. O Iniciado não briga no bar, mas combate coisas como injustiças sobre os mais frágeis com rapidez e firmeza.

Mesmo quando a lição é dura ou quando a prática corta a carne do aprendiz, a qualidade de Presença do Mestre é estável e carrega a Sabedoria de quem já viu e viveu muita coisa, e está para além do certo e errado, do protecionismo ou do julgamento. 

Um Mestre que poliu Alma e seu Caráter nos tropeços do caminho não imputa culpa para “ensinar uma lição” a seus aprendizes. Com eles não é firme demais nem solto demais. Aperta e liberta com a precisão com que empunha uma espada.

E se pensarmos no nosso CONTEXTO de trabalho em prol da Saúde e Segurança como um Do Jo, hein, prevencionistas?

Que tipo de arte vocês praticam para refinar a consciência, fortalecer coragem e vigor? Com que constância pisam no tatame para praticar a postura de dedicação e humildade dos aprendizes? Que ética e postura diante nos desafios vocês reverenciam?

E se você se percebe atuando no lugar do MESTRE (educador, gerente, supervisor, técnico, engenheiro, consultor). 

Você observa e está consciente a respeito da forma com que suas palavras, gestos, ações e silêncios influenciam no jeito como as pessoas pensam, sentem e fazem as coisas ao seu redor? 

Como você faz (na real!) para as pessoas te obedecerem? 

Que preço elas pagam por serem demandadas por você?

Ao que você se presta que, se pensasse um pouco, não se prestaria? 

Que tipo de ser humano seus aprendizes veem quando olham para você?

E o APRENDIZ em você.

Acredita que já está pronto pra lutar o bom combate só porque tem horas de treino e um corpo habilidoso?

Idolatra teóricos, métodos, gráficos e técnicas com a rigidez dos apegados e a auto ilusão dos fanáticos?

Como você faz para levantar depois de um golpe preciso em seu ponto fraco: esperneia, fala grosso e coloca a culpa em alguém? Ou se ergue com dignidade, usando a força e de suas pernas e no dia seguinte volta pro Do Jo para seguir aprendendo, praticando e refinando sua Maestria?

A intenção desta correlação e das provocações é apoiar quem quer evoluir em sua tomada de consciência e em sua forma de impactar positivamente sua realidade de trabalho e as pessoas ao seu redor.

Sua fagulha surgiu das perguntas que recebo ao final de minhas palestras, tanto de gestores quanto de especialistas em Saúde e Segurança e que me mostram que tem muita gente querendo ir mais fundo, além dos conceitos e modelos. 

Quer se implicar pessoalmente em processos de transformação e humanização dos ambientes de trabalho com discernimento, novas éticas e mais consciência de si.

A todos e todas Mestres/Aprendizes eu dedico esta pequena contribuição.

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