Tudo mudou, menos nossa forma de Educar para o Comportamento Seguro
Nosso aprendiz mudou.
Hoje ele tem um smartphone no bolso. Ele acessa conteúdo em tempo real, em forma de imagens ultra definidas e coloridas, vídeos curtos e mêmes engraçados. Ele consome montanhas de informação em curtíssimos espaços de tempo navegando em redes sociais e em grupos no whatsapp. Ele ficou mais seletivo com o que vê, menos paciente com enrolação e muito distraído virtualmente. Assim como nós.
Os meios de ensino-aprendizagem mudaram.
Com o avanço tecnológico e das pesquisas em Neuro-ciências, chegaram as tecnologias de Ensino à Distância e Ambientes virtuais de aprendizagem, aplicativos para aprender idiomas (e muito mais) e canais de youtube que te ensinam desde uma receita de chef-vegano até como fazer um barco de silver-tape. No ambiente off-line da antiga "sala de aula" novos espaços e formas de Aprendizagem também ganham força com metodologias participativas, aprendizagem experiencial, design de inovação por co-criação, jogos e gamificação. Estamos todos sendo convidados a aprender mais, em menos tempo e de um jeito mais divertido.
Os objetivos de ensino também mudaram.
Para quem vem estudando e se aprofundando no desenvolvimento de Comportamentos Seguros, a esta altura já deve estar claro que objetivos de ensino como "impedir que o cara faça bobagem", ou "garantir que ele faça as coisas direito", ou "já foi treinado agora já não pode mais errar" costumam se mostrar inconsistentes, inúteis e ineficazes. Os profissionais e as empresas que foram um pouco mais fundo neste entendimento já perceberam que não há meios de CONTROLAR o comportamento das pessoas por meio de treinamentos, palestras, punições e brindes. E que desenvolver Pessoas é um tanto diferente e mais complexo do que fazer manutenção em máquinas. Além disto, nós também odiamos sermos tratados como máquinas.
A mentalidade por trás da Educação para o Comportamento Seguro não mudou.
Bastam algumas visitas a Diálogos de Segurança para nos depararmos com a realidade do velho paradigma escolar reproduzido fielmente por muitas indústrias. Salas cinzas, escuras, com cadeiras escolares todas viradas para o quadro, uma pessoa lendo um relato de acidente enquanto alguns dormem, outros olham o celular e muitos tentam prestar atenção, balançam a cabeça concordando com tudo. Mas visivelmente só alguns conseguiram ter insights e ideias de como transpor aquela história trágica lida ali para a sua realidade de trabalho lá na área. Todos assinam a lista de presença.
Quando o evento é um treinamento, encontramos as pessoas o dia todo fechadas na sala, boa parte do tempo assistindo a slides e pequenos filmes, ouvindo um instrutor esforçado e muito empenhado falar bastante e fazer algumas perguntas. Ao final de aplica uma prova na intenção de verificar se o aprendiz "reteve o conteúdo". E tudo isso precisa se transformar em atitudes lá na fábrica, de preferência no dia seguinte.
Olhando para este cenário, me surgem algumas perguntas:
Você participaria feliz e engajado de um treinamento de segurança da sua empresa?
Quando está no papel de aprendiz, você consegue transformar em comportamentos (de alta qualidade técnica e cuidado com segurança) tudo o que você ouve numa aula e vê num power point?
Por quanto tempo após ter participado de um treinamento, os seus aprendizados ficam vivos na sua rotina diária?
Tudo indica que estamos diante de mais uma Transição de Modelos / Paradigmas das várias tão presentes em nosso momento histórico e social. Muitas das crenças que vêm sustentando Educação para o Comportamento Seguro (e educação de adultos em geral) até aqui parecem dar sinais de falência.
Já temos uma grande quantidade de novas estratégias e possibilidades para fazer Educação com mais Impacto (aprendizagem significativa, engajamento, satisfação) e menos Custo (financeiro, energético, de tempo). Muitas empresas já vêm experimentando e incorporando novas metodologias e descobrindo um mundo amplo de possibilidades. Mas ainda há um mundo por fazer.
Inovação envolve correr o risco (cuidado e planejado) de experimentar o novo, o diferente, o fora da caixa. E o primeiro passo para Inovar em Educação vem do mesmo princípio fundamental da boa e velha Andragogia (educação de adultos):
Aprender algo novo começa por abrir mão de insistir no velho!