Morrer para o velho e nascer para o novo

Em duas semanas mudei de casa e de consultório.

Duas mudanças com direito a caminhão baú, pintura de parede “self made” e todos os imprevistos, ajustes, caixas e improvisos dignos de uma boa e bela MUDANÇA.

Uma não, DUAS.

É assim que me sinto, dormindo e acordando dentro de um liquidificador ligado!

Enquanto carregava caixas e desenrolava bibelôs me peguei teorizando...

Eu, que fiz formação em “terapia de mudança” estava ali, vivendo na espinha o que os grandes psicólogos já falaram sobre MUDAR.

Me lembrei muito do terapeuta corporal Stanley Keleman (em “Corporificando a Experiência” e outras obras). Ele dividiu o processo de mudar em três etapas: ending, middle grounding e forming:

1 - Destruindo a forma velha (ending):

No princípio vivemos um processo de ver a forma, o jeito, as regras, os padrões conhecidos e habituais ruindo. De repente aquilo que, até então, era verdade absoluta passa a ficar com cara de que não serve mais. Dá desgosto, não nutre mais, vai minguando, deixando de fazer sentido.

Nesta etapa vivemos uma espécie de angústia triste, misturada com um medo de perder, de ser abandonado, de cair em desgraça. Afinal “estão tirando o chão debaixo dos meus pés e eu não posso fazer nada”.

Os que passam por ela um pouco mais conscientes de que isso está ocorrendo acabam amenizando um pouco a dor do fim deste “algo”, mas não dá para passar despercebida...

2 - Nem o velho, nem o novo...O NADA (middle grounding):

Quando a etapa velha se desfaz surge uma clareza de que aquilo tinha mesmo que acabar. Mas o apego fica.

Às vezes caímos em recaída agindo e nos comportando como se ainda fossemos “aquele” que ficou para trás. Como se aquilo que está morto em nós ainda vivesse. E caminhamos rumo ao vazio. É como caminhar num nevoeiro intenso...não se enxerga um palmo na frente!

E se iluminar com a lanterna fica ainda pior.

A única saída é a entrega, é confiar que este é o caminho, é suportar o vazio e a dúvida que martela em nossas cabeças. E agora? Será que é isso mesmo? Terei eu feito uma incrível bobagem? E se der tudo errado?

É preciso resistir à tentação de se bater e permitir que a vida aprofunde as raízes do novo para que, em seguida, ele possa brotar do chão e mostrar sua cara.

(A maioria das pessoas que decide mudar algo em si ou em sua vida desiste nesta etapa!)

3 - uma nova experiência de ser (forming):

E finalmente chega o momento de ver brotar do chão a nova realidade.

Assim como na natureza, quando a raiz está pronta o broto surge com uma força impressionante, superando obstáculos e crescendo rápido e decidido a se tornar aquilo para o qual nasceu.

Algumas pessoas acreditam que esta é a etapa mais fácil. Ledo engano...

Ser atravessado pela potência do novo e suportar a força de seu movimento é uma grande aventura! Não temos todo o controle sobre o que vai nos acontecer...assistimos a sua construção, que acontece como deve acontecer, e não necessariamente como gostaríamos que acontecesse.

O real e o ideal se confrontam neste momento e deste embate surge “a nova forma”.

Morrer para a vida velha, habitar por um tempo os ínferos reinos de Plutão e renascer para uma nova primavera em minha natureza.

Este texto foi escrito em fevereiro de 2011. É incrível como a mudança é uma presença perene em nossas vidas ;)

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